Adolescência e o silêncio do patriarcado

Desde pequenos, os homens são estimulados a adotar uma postura de silenciamento e repressão no que diz respeito às suas emoções. A ideia de que homens não são sensíveis foi construída por uma cultura patriarcal que se sustenta na opressão sistemática das mulheres e, também, no reforço de ideias tóxicas sobre como os homens devem se portar. Com isso, cria-se uma masculinidade frágil, pautada pela imposição do medo.

É o que mostra, de forma brutal, a série "Adolescência", da Netflix. Ela expõe como os jovens, cada vez mais conectados às redes, mantêm-se isolados. Expostos a toda sorte de informações, ainda convivem com o silêncio, crescendo com dificuldades de comunicação, seja com a família ou com a sociedade em geral. Bullying, problemas de autoimagem, entre outros, são fatores que se misturam na equação.

Desde pequenos, meninos são ensinados que não devem ter contato com suas emoções e são estimulados a internalizar sentimentos. E isso tem consequências, por vezes, devastadoras, não só pela dificuldade para se vulnerabilizar como também um estímulo constante à violência, considerada o "escape" para a resolução dos problemas. Com isso, vivemos em uma cultura de silêncios e silenciamentos, de dor, que consome não só quem sofre, mas atinge também outras pessoas.

Ao falarmos sobre transtornos alimentares em homens, nos deparamos com muita negação. Muitos homens não se sentem aptos a compartilhar seus problemas e, assim, não procuram ajuda. De acordo com a National Eating Disorders, dos EUA, um terço das pessoas com distúrbios alimentares é composto por homens. Isso significa, naquele país, cerca de 6,6 milhões de homens. Essa população, no entanto, dificilmente busca tratamento, justamente pela cultura patriarcal, que desestimula a busca por autocuidado.

Uma mudança efetiva não começa de uma hora para a outra, ainda mais se tratando de uma questão estrutural. Mas, é essencial que os homens sejam estimulados, desde pequenos, a trabalhar suas emoções e a buscar ajuda e acompanhamento, tanto para questões de saúde emocional quanto física.