Os ensinamentos do silêncio
O silêncio não é simplesmente o oposto do som. Ele não é uma pausa entre palavras ou um fundo neutro sobre o qual o mundo se desenrola. O silêncio, na experiência vivida, é presença. Ele não é ausência de algo, mas a manifestação de um modo de estar. Há silêncios que pesam, outros que acolhem; silêncios que vibram, que tocam o corpo, que revelam o que nenhuma palavra alcança.
Na vida, não há separação entre o ser que percebe e o mundo que se mostra, e é assim que o silêncio nos habita tanto quanto o habitamos. Ele se dá no encontro com o outro, quando as palavras se suspendem e o olhar sustenta o instante. Há uma densidade no silêncio compartilhado que nenhum discurso traduz: é o espaço onde o outro se mostra em sua alteridade radical.
O silêncio também se revela quando o mundo cessa seu barulho interior, quando deixamos de nomear, de julgar, de esperar. É nesse momento que o fenômeno se mostra em sua pura doação. Um pôr do sol pode silenciar a alma não porque cala o som, mas porque dissolve o eu que interpreta. O silêncio, então, é a abertura ao que vem sem aviso, ao que aparece por si, sem mediação.
No vivido, há silêncios que doem, como o silêncio de quem se retira, de quem não responde, de quem abandona. Mas até esses silêncios falam. Eles não são meramente lacunas: são sentidos que se impõem no corpo, na memória, na atmosfera do instante. A vida nos convida a escutar esses silêncios, a senti-los em sua espessura, sem querer preenchê-los com explicações.
E há também o silêncio como retorno a si. Quando o mundo cede espaço e somos confrontados com o que pulsa em nosso íntimo. O silêncio aí não é conforto, é vertigem. Porque nele, sem distrações, somos lançados à nossa existência nua, às perguntas sem resposta, à vulnerabilidade de simplesmente ser.
O silêncio, enfim, não se explica. Ele se experiencia. Ele não está no que se cala, mas no modo como o mundo se retira e, nesse mesmo gesto, se oferece. Ele é o intervalo onde o sentido se insinua antes de se fixar. Ele é o murmúrio do ser, quando tudo o que é dito já não basta.