Como nos reconhecer diante da padronização da vida?

Um individualismo cada vez maior e uma individualidade cada vez mais ameaçada. Essa é uma das maiores contradições do nosso tempo, quando somos estimulados a esquecer do coletivo em prol de interesses pessoais, ao mesmo tempo em que o mercado nos diz o tempo todo que devemos abandonar aquilo que nos faz quem somos. E isso, além de aprofundar os problemas sociais, também gera e estimula o sofrimento das pessoas.

Os mecanismos de repetição das redes sociais incentivam a busca por validação social, que hoje se apresenta, principalmente, pelos números de curtidas ou de seguidores. Consumir, comprar, influenciar, vender, engajar são termos que se tornaram comuns na atualidade. E, com isso, aumenta a comparação e a insegurança. E isso não é natural.

Os algoritmos influenciam o que chega até nós, favorecem o que já é popular e que o mercado quer que consumamos. E as plataformas digitais estimulam que repitamos aqueles conteúdos que “bombaram”, fazendo com que tudo pareça sempre a mesma coisa. É uma retroalimentação constante.

Nesse contexto, aquilo que é “fora do padrão” tem mais dificuldade de circular e ganhar visibilidade. Então, é muito mais fácil vermos conteúdos de pessoas viajando, malhando, saindo para bons restaurantes, sempre se divertindo, ao invés de receber postagens que mostram as contradições da vida, as injustiças sociais, os desabafos sobre as dificuldades financeiras, afetivas, sociais.

Passamos a buscar uma perfeição que simplesmente não existe. E somos desestimulados a descobrir o que nos constitui, aquilo que faz de nós seres únicos. Corpos, rostos, rotinas, formas de falar: tudo parece igual nas redes – e cria um dilema fora delas, pois a vida é feita de contradições, altos e baixos, de imperfeições. E são essas imperfeições, essa constante tentativa de crescer e ser feliz, que nos move, que estimula que descubramos quem somos.

As redes sociais nos dizem que não podemos errar. A vida nos lembra que, sem os erros, sem as tentativas, nos tornamos avatares de carne e osso.