O tempo não é nosso inimigo (e nem uma mercadoria)
Quanto custa o seu tempo? Difícil essa pergunta, não é? Até porque ela nos provoca a pensar nossa relação com a vida e com esse conceito tão abstrato que é o tempo. Na nossa sociedade pautada pelo capitalismo e pela ideia de que “tempo é dinheiro”, desenvolvemos uma relação cada vez mais desconectada com a contemplação, com a pausa.
Explico: se o tempo tem um “custo”, parar e “não fazer nada” acaba sendo visto como uma ação negativa. E isso influencia tudo nas nossas vidas. Somos condicionados a pensar que nossas escolhas devem ter uma função, inclusive a alimentação. Isso tira de jogo a ideia da experiência, da contemplação, do degustar o momento.
A alimentação passa a ser cronometrada e está ali apenas para cumprir uma função. Nessa mesma perspectiva, o comer se torna alvo de pressão social: enxerga-se como o outro come, o que come e até por quanto tempo come. Contraditoriamente, somos bombardeados por mensagens de que precisamos investir no autocuidado, em tempo para a nossa saúde física e mental. Essa contradição faz com que a gente se sinta culpado o tempo todo, ainda mais quando somos bombardeados por mensagens que dizem que só não “aproveita o tempo’ quem não quer. Mas, quem possui esse privilégio?
Sim, porque o tempo é também reflete desigualdades sociais e não é o mesmo para todos. Existe um recorte de gênero, raça, classe e outros fatores quem influenciam em como as pessoas podem usufruir das suas vivências. E você pode estar se perguntando: “Ellen, mas por que você está falando sobre isso?”. E eu te explico: uma das formas mais efetivas de começarmos a transformar as coisas é entendendo que muitos dos problemas são estruturais.
Tentam nos fazer acreditar que somos o problema: que se estamos cansados é porque não sabemos nos organizar; se estamos em dificuldade financeira é porque não temos força de vontade suficiente; que se não estamos em um padrão de beleza é porque nos falta disciplina. Os efeitos disso, sabemos, são nocivos. Por isso, vamos tirar um tempo para pensar no que realmente importa e faz sentido para nós?