A relação com a comida é uma constante (re)construção
Você já parou para pensar que a nossa relação com a comida é fruto de uma construção que começa desde os nossos primeiros suspiros e nos acompanha até o fim? Às vezes é fácil esquecermos disso porque o comer fica associado apenas aos aspectos de sobrevivência e instinto. O fato é que a alimentação é muito complexa, é moldada por diversos fatores, como clima, geografia etc., e também vai nos moldando, como frutos da cultura de um lugar e de um povo.
Em "História da Alimentação no Brasil", Câmara Cascudo aponta que o ato de comer é permeado por memória, pertencimento e afetividade e que gera elos entre os indivíduos e as comunidades. Isso influencia na formação de gosto, em tradições, raízes familiares e, de forma mais ampla, na identidade de um povo. Para Raul Lody, especialista em antropologia da alimentação, a comida também guarda uma dimensão de conexão, tanto simbólica quanto social, e que a preparação dos alimentos é também uma prática de afeto e (auto)cuidado.
Nesse sentido, é importante a gente lembrar que essa relação é construída e reconstruída o tempo todo. Podemos mudar nossos gostos, nossos hábitos, ou reforçá-los, encontrar neles formas de dialogar com o mundo. Acima de tudo, creio que o importante é criarmos uma intimidade com os alimentos. E o que seria isso? Bem, não há uma fórmula pronta e talvez o mais mágico seja isso: você pode encontrar seu caminho junto à comida.
Da escolha dos insumos ao preparo, da apreciação dos gostos, das combinações e texturas, a experiência com a comida pode ser um tempo de contato com o próprio corpo e com as próprias emoções. Entender o que se está comendo, como esse comer reflete o seu estado de espírito e suas emoções, se abrir para novas sensações, perceber seu próprio ritmo, entre outros aspectos, é um exercício transformador. Vamos tentar?!